Flávio Dino e a sucessão

Imposta pela democracia, a alternância de poder está chegando ao governo do Maranhão. E mesmo já se aproximando a hora da onça beber água, aparentemente, o governador Flávio Dino ainda não tem um sucessor explícito, o que, a essa altura do campeonato ou do calendário gera angústia do jogo ir pra prorrogação e pênaltis.

Então, como diria o sábio Maquiavel, que tão bem conhecia as paixões humanas, sem se deixar influenciar pelas paixões, o príncipe vai precisar de bons conselheiros, aqueles com cabeças que pensam por si mesmas, pelo que já viram e aprenderam; o príncipe terá que ter o rugido dos leões para espantar os lobos, e a esperteza da raposa para não cair em armadilhas.

Acontece, que a hora do pão e circo já passou; agora é meu pirão primeiro, porque há pouca farinha; é hora do faz-me-rir, mas a fonte dos risos secou e os leões do poder já não rugem mais. Alea jacta est!

Objetivamente, há nomes por dentro (Carlos Brandão e Weverton), pelo centro (Roseana e até Edvaldo Holanda) e por fora (Eduardo Braide e Roberto Rocha).

Roseana desponta nas pesquisas, numa espécie de recall coletivo, e como a moeda da política é popularidade, o grupo chamado Sarney, com visão de raposa felpuda, vislumbra possibilidades de mexidas promissoras no tabuleiro que vão dos Leões ao Lula.

Weverton, segundo colocado, tem milhões de motivos e músculos estruturais a inflar seu ego inflexível rumo ao seu objetivo inarredável de desapear o atual governador de sua liderança maior no Estado (é uma questão de ambição selvagem e fome insaciável de poder, de achar-se ungido pelos deuses, nada a negociar); o sucessor é ele ou ele mesmo, e ponto.

Carlos Brandão, em terceiro lugar nas pesquisas, embora não tenha densidade popular, por transmitir ao povo uma imagem de sobriedade e até timidez, tem a seu favor a máquina governamental, podendo conectar-se pragmaticamente com todos os partidos, todas as lideranças municipais e nos mais distantes rincões do Estado. Com uma boa estratégia de marketing e de alianças com os prefeitos, pode seduzir o eleitorado com uma imagem progressista de continuidade das ações e projetos do atual governo. É inteiramente viável, basta lembrar José Reinaldo que, em circunstâncias semelhantes, partindo de três por cento, ganhou a eleição para governador. Um filme recente que pode ser plenamente revisto em 2022.

O Roberto Rocha joga todas as suas fichas numa única aposta, que se chama BOLSONARO. Se o presidente for bem, Roberto Rocha dar-se-á bem, simples assim. Com antecedência, escolheu um lado, e nele permanece leal e obstinadamente, seguindo o conselho ao príncipe: “Em uma guerra, escolha um lado: os que ficam em cima do muro, não terão o respeito nem dos vencedores, nem dos perdedores.”

O Eduardo Braide é o imponderável da política, aquele que pode, como uma onda, provocar um straight em todo o tabuleiro. Braide, entre todos e contra todos, é o único que sopra os ventos da mudança nos anseios do inconsciente coletivo; o único conectado com a dinâmica do compartilhamento de ideias, diretamente com o cidadão em sua rua, em sua casa e em seu smartphone. As pesquisas não explicam, mas isso chama-se carisma, que continua aceso na relação despojada do jovem prefeito, olho no olho com a cidade e seus cidadãos, o que pode contagiar os maranhenses e viralizar numa rede colaborativa e generativa de esperanças em um Maranhão melhor.

Sem um sucessor natural de seus sonhos, eis o dilema, a escolha de Sofia em que se encontra o governador Flávio Dino, dito professor de Deus, mas que se esqueceu de ensinar a si mesmo a encontrar o herdeiro de sua herança política. A um ano de deixar o cargo, pressionado pelo tempo, pelo seu desempoderamento gradual e pelos que querem o seu lugar, com sua bênção ou não, eis o governador preso em seu próprio labirinto, diante da esfinge que o interroga implacavelmente: DECIFRA-ME, OU TE DEVORO.

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