Gramado

GRAMADO

 

O Festival Mundial de Publicidade de Gramado é um charme só.

A cidade em si, toda ela é um cartão postal. De fenótipo europeu, na arquitetura, no clima e na assepsia, é um cenário perfeito para o desfile das vaidades aquecidas nas fogueiras(ou lareiras) do talento criativo que move a sociedade consumista no prenúncio do século XXI.

Entre uma palestra e outra, enquanto o bronze, o ouro e o Grand Prix não vêm, cita-se Fernando Pessoa, Jorge Luís Borges, Carlos Drummond de Andrade, Bill Gates, Dostoiévski, McLUHAN e até Einstein. Tudo para explicar a propaganda, que até hoje, desde a I Revolução Industrial, não se sabe se é ciência, arte ou uma simples técnica de persuasão de venda.

A juventude, estudantes de propaganda, a grande maioria dos 1.700 participantes, reflete o sonho do ouro futuro nos rostos, pois o target da publicidade, excluídas as metáforas, hipérboles, anfibologias e eufemismos é mesmo, sem hipocrisia, o sucesso traduzido em money e prêmios, se possível, para afagar os nossos egos, geralmente superegos.

No entanto, entre o sonho dos jovens, o brilho das estrelas e o glamour de Gramado, ardia, ali, no XI Festival Mundial de Publicidade, o fogo das inquietações sobre o futuro da propaganda no mundo e, em especial, no Brasil. Duas vozes, uma pregando o apocalipse e outra, despertando as consciências para a iminência do abismo, me pareceram o que de mais vital  ocorreu em Gramado de 11 a 13 de junho. Fleumático e neocibernético o Sr. Sérgio Amado, da Standard, pregou e vaticinou a ordem no caos: “A propaganda vai atingir primeiro o indivíduo, depois as massas. A negociação deve ser totalmente livre e quem for competente que se estabeleça”.

Na inserção seguinte, falando do mesmo produto, mas defendendo a antítese do Sr. Sérgio Amado, Roberto Duailibi, professoral e salomônico, fala sem nenhum receio do perigo ao lado, cujo rosto todos nós conhecemos: “A propaganda brasileira, com mais de 2.000 agências, é respeitada no mundo inteiro,  e chegou onde chegou graças às regras que aí estão. Devemos refletir sobre mudanças bruscas na regulamentação  existente. Não podemos retroceder, mas sim fortalecer cada vez mais a nossa propaganda.”

Pronto. A partir daí estabeleceu-se o brainstorm. E nós que somos criativos, vamos encontrar a solução certa para o nosso problema? Como nas grandes campanhas, um erro no planejamento significa dinheiro, muito dinheiro perdido, e em nosso caso perderemos a própria estrada do futuro de nossos negócios, porque propaganda é negócio e como tal deve ser tratada, com pragmatismo, cujo fim único é o lucro. Mexer com o establishment não parece ser uma vocação da propaganda, que se adapta, mas não revoluciona.

Nesse ponto da questão, uma coisa me parece sensata: perguntas filosóficas do tipo “o homem é uma invenção de Deus ou Deus é uma invenção do homem?”, são inteiramente imcompatíveis com o racionalismo da propaganda que só usa a emoção se ela cumpre a fria lógica da oferta e da procura.

A propaganda pode morrer com a velocidade das inovações tecnológicas, com a revolução da informática e a globalização? Ora, a propaganda é filha direta da sociedade de consumo, e ela só  morrerá se esta morrer.

A propaganda deve ser regional ou universal? Ora, todos nós sabemos que comunicação se faz com um emissor, um veículo e um receptor. Mas entre esses três elementos existe o “CÓDIGO”. É só não contrariar o código do público alvo. Se é universal ou regional, o planejamento indica. O resto é discutir sexo dos anjos, arrombar a porta aberta, descobrir a pólvora.

O que nos interessa, na realidade, é saber que a nossa propaganda é forte e passa por um momento que o Bill Gates chama de “espiral positiva”, uma onda que devemos segurar sob pena de morrermos afogados, caso ela se quebre.
Para que exista os Ronaldinhos , fazendo uma analogia com o futebol, pode-se até mexer nas regras do jogo, menos deixar o jogo sem regras. Seria a autofagia, a lei do mais bruto, um “grand prix” ao perna de pau, ao mau caratismo dos incompetentes que vendem barato o que fazem sem talento.

A nós interessa muito mais, nesse instante, a estorinha do Michelangelo e do sapateiro. “Mestre, eu não gostei desse seu quadro”, diz o sapateiro, aproveitando a intimidade com o gênio para criticar uma obra sua, debaixo do braço. “Sapateiro”, responde o gênio, “não passe dos seus sapatos”.
Quem é ou quais são os sapateiros que estão julgando a nossa atividade, o nosso trabalho e ameaçando a nossa própria sobrevivência?

A ele, ou a eles, que podem ser sapateiros com ogivas nucleares nas mãos, o pragmatismo de Maquiavel: “às vezes devemos ter o rugido do leão para espantar os lobos, e a esperteza da raposa para não caírmos em armadilhas”.
Quanto ao XI Festival Mundial de Gramado, a minha admiração ao João Firme(e forte) e aos outros participantes que, como ele, lutam para que nossa propaganda seja cada dia mais firme e forte.

ALEX BRASIL é jornalista, poeta e presidente do
Sindicato das Agências de Propaganda do Maranhão.

GRAMADO

O Festival Mundial de Publicidade de Gramado é um charme só.
A cidade em si, toda ela é um cartão postal. De fenótipo europeu, na arquitetura, no clima e na assepsia, é um cenário perfeito para o desfile das vaidades aquecidas nas fogueiras(ou lareiras) do talento criativo que move a sociedade consumista no prenúncio do século XXI.

Entre uma palestra e outra, enquanto o bronze, o ouro e o Grand Prix não vêm, cita-se Fernando Pessoa, Jorge Luís Borges, Carlos Drummond de Andrade, Bill Gates, Dostoiévski, McLUHAN e até Einstein. Tudo para explicar a propaganda, que até hoje, desde a I Revolução Industrial, não se sabe se é ciência, arte ou uma simples técnica de persuasão de venda.

A juventude, estudantes de propaganda, a grande maioria dos 1.700 participantes, reflete o sonho do ouro futuro nos rostos, pois o target da publicidade, excluídas as metáforas, hipérboles, anfibologias e eufemismos é mesmo, sem hipocrisia, o sucesso traduzido em money e prêmios, se possível, para afagar os nossos egos, geralmente superegos.

No entanto, entre o sonho dos jovens, o brilho das estrelas e o glamour de Gramado, ardia, ali, no XI Festival Mundial de Publicidade, o fogo das inquietações sobre o futuro da propaganda no mundo e, em especial, no Brasil. Duas vozes, uma pregando o apocalipse e outra, despertando as consciências para a iminência do abismo, me pareceram o que de mais vital  ocorreu em Gramado de 11 a 13 de junho. Fleumático e neocibernético o Sr. Sérgio Amado, da Standard, pregou e vaticinou a ordem no caos: “A propaganda vai atingir primeiro o indivíduo, depois as massas. A negociação deve ser totalmente livre e quem for competente que se estabeleça”.

Na inserção seguinte, falando do mesmo produto, mas defendendo a antítese do Sr. Sérgio Amado, Roberto Duailibi, professoral e salomônico, fala sem nenhum receio do perigo ao lado, cujo rosto todos nós conhecemos: “A propaganda brasileira, com mais de 2.000 agências, é respeitada no mundo inteiro,  e chegou onde chegou graças às regras que aí estão. Devemos refletir sobre mudanças bruscas na regulamentação  existente. Não podemos retroceder, mas sim fortalecer cada vez mais a nossa propaganda.”

Pronto. A partir daí estabeleceu-se o brainstorm. E nós que somos criativos, vamos encontrar a solução certa para o nosso problema? Como nas grandes campanhas, um erro no planejamento significa dinheiro, muito dinheiro perdido, e em nosso caso perderemos a própria estrada do futuro de nossos negócios, porque propaganda é negócio e como tal deve ser tratada, com pragmatismo, cujo fim único é o lucro. Mexer com o establishment não parece ser uma vocação da propaganda, que se adapta, mas não revoluciona.

Nesse ponto da questão, uma coisa me parece sensata: perguntas filosóficas do tipo “o homem é uma invenção de Deus ou Deus é uma invenção do homem?”, são inteiramente imcompatíveis com o racionalismo da propaganda que só usa a emoção se ela cumpre a fria lógica da oferta e da procura.

A propaganda pode morrer com a velocidade das inovações tecnológicas, com a revolução da informática e a globalização? Ora, a propaganda é filha direta da sociedade de consumo, e ela só  morrerá se esta morrer.

A propaganda deve ser regional ou universal? Ora, todos nós sabemos que comunicação se faz com um emissor, um veículo e um receptor. Mas entre esses três elementos existe o “CÓDIGO”. É só não contrariar o código do público alvo. Se é universal ou regional, o planejamento indica. O resto é discutir sexo dos anjos, arrombar a porta aberta, descobrir a pólvora.

O que nos interessa, na realidade, é saber que a nossa propaganda é forte e passa por um momento que o Bill Gates chama de “espiral positiva”, uma onda que devemos segurar sob pena de morrermos afogados, caso ela se quebre.
Para que exista os Ronaldinhos , fazendo uma analogia com o futebol, pode-se até mexer nas regras do jogo, menos deixar o jogo sem regras. Seria a autofagia, a lei do mais bruto, um “grand prix” ao perna de pau, ao mau caratismo dos incompetentes que vendem barato o que fazem sem talento.

A nós interessa muito mais, nesse instante, a estorinha do Michelangelo e do sapateiro. “Mestre, eu não gostei desse seu quadro”, diz o sapateiro, aproveitando a intimidade com o gênio para criticar uma obra sua, debaixo do braço. “Sapateiro”, responde o gênio, “não passe dos seus sapatos”.
Quem é ou quais são os sapateiros que estão julgando a nossa atividade, o nosso trabalho e ameaçando a nossa própria sobrevivência?

A ele, ou a eles, que podem ser sapateiros com ogivas nucleares nas mãos, o pragmatismo de Maquiavel: “às vezes devemos ter o rugido do leão para espantar os lobos, e a esperteza da raposa para não caírmos em armadilhas”.
Quanto ao XI Festival Mundial de Gramado, a minha admiração ao João Firme(e forte) e aos outros participantes que, como ele, lutam para que nossa propaganda seja cada dia mais firme e forte.

 

ALEX BRASIL é jornalista, poeta e presidente do
Sindicato das Agências de Propaganda do Maranhão.