Josué Montello

JOSUÉ MONTELLO

 

O intelectual Josué Montello personificou mais do que qualquer escritor brasileiro, os versos proféticos do poeta Nauro Machado: “Ser poeta é duro, e dura/ e consome toda/ uma existência.”

Autor de mais de cento e sessenta livros, dos quais sobressaem-se 25 romances, Josué foi um incansável inventor de mundos e personagens. Sua vida de 88 anos foi um desdobrar frenético de páginas literárias, ora pela leitura dos mestres da literatura universal, ora pela criação de suas próprias obras, muitas delas obras-primas, a exemplo de Os Tambores de S. Luís e Noite sobre Alcântara.

Alguém já disse que o escritor quer escrever sua mentira, mas acaba escrevendo sua verdade. Josué, ao construir ou desenvolver o enredo do seu rico universo ficcional; ao reinventar-se em palavras, gêneros e estilos, na verdade, revela um imenso auto retrato de quem, ao criar personagens, foi o protagonista de sua própria obra, indissociada do percurso pessoal épico marcado pela grandeza e eloqüência com que se expressou na vida.

Com a morte do escritor Josué Montello o Brasil, e em especial o Maranhão, vêem-se diante do fim do ultimo capítulo de uma memorável história literária. Fecha-se, no entanto, o livro efêmero da carne perecível do homem Montello, mas abre-se o panteon da imortalidade, para abrigar na biblioteca perene da posteridade a arte de quem fez da palavra, do verbo, e da vida um legado genial, que desvela e eleva o espírito humano.

No Brasil e no Maranhão literários, os tambores de um triste adeus anunciam a partida de um brasileiro-maranhense chamado Josué Montello, mas nos beirais de S. Luís, nas manhãs eternas dos poemas de Gullar, os bem-ti-vis celebram a permanência de um mestre, que, como Machado de Assis ou Camões, soube com arte e engenho imortalizar a língua portuguesa, imortalizando assim um pouco de cada um de nós.

Alex Brasil
Jornalista e poeta, membro da Academia Maranhense de Letras.