DESENCONTRO
Há um tempo em tudo se encontra:
as pedras
os espíritos
os sentimentos
as paixões
os desejos
os opostos…
E nesse tempo não há espaço
não há banco
praças
cinemas
bares
esquinas
motéis luxuosos
para sustentáculo de abraços e beijos.
Esse tempo não tem nome,
mas poderia chamar-se
milionésima dimensão,
eternidade alfa,
ou infinito zero.
É nesse tempo que te espero
como quem espera viver de novo.
Tudo por causa de nosso desencontro
Que matou em nós qualquer retorno.
COISAS DO AMOR
Como posso ser outro
se ainda sou aquele que fui,
e como posso ser aquele
se já não sou o mesmo?
Pergunto isso agora,
porque te olho e te reconheço,
lembro que te amei,
mas assim te vendo
não mais estremeço
como nos dias em que jurei
jamais te esquecer.
Pergunto porque me fitas
sem também estremecer,
sem também ficar aflita.
Pergunto meu amor,
porque não encontro explicação
ao ver-me um homem inteiro
em vários homens;
ao ver-te uma só mulher
em várias outras;
um poeta que um dia te quis,
uma musa que outrora me amou,
um canalha que já não sabe o que diz
à ex-amada que prostituta virou!
COMENTÁRIOS SOBRE O AUTOR
Alex, foi bom te conhecer, foi bom se tornar amigo, foi bom ler seus versos, mais um amigo da terra em que nasci, POETA.
JOÃO DO VALE
Posso dar o meu testemunho a respeito de Alex Brasil, de quem aqui afirmo que é um dos operários intelectuais do Maranhão mais assíduos ao trabalho, que leva tão a sério a ponto de dele poder dizer-se que é dos raros profissionais da literatura existente entre nós. Alex conhece o seu ofício e procura exercê-lo com eficiência e dignidade.
VIÉGAS NETTO
Em BRASIL, NÃO CHORE MAIS o poeta Alex Brasil deixa sua alma mais feliz vendo seu povo com novas perspectivas. O simples fato de saber que há esperanças incentiva o poeta à evocação do sorriso, sem, no entanto, esquecer de que para preservar a liberdade, lutar sempre é preciso.
CHICO POETA
A poesia é a linguagem universal dos homens que lutam pela liberdade. Alex Brasil, neste livro, traduz este espírito.
JOÃO LITO
Alex Brasil, mais coerente que tantos outros despistadores do real e trânsfugas da vocação, sabe que, contra todas as investidas da técnica alienante e da mecânica irracional, a poesia deve continuar,”
NAURO MACHADO
“Quando Alex Brasil publicou seu primeiro livro, e numa época em que havia, no país, notadamente no Maranhão, inflação de escritores, sentimos que ele não ficaria apenas nas comemorações banquetes de estréia. Partiria, por força da vocação e do talento, até outros experimentos. E aconteceu tanto que não lhe Escondemos estímulos ou lhe camuflamos elogios”.
CARLOS CUNHA I
“Suas poesias espelham um poeta que se renova à medida que novas perspectivas do futuro se lhe apresentam. Por isso, o Alex Brasil é e sempre será um poeta que consegue expressar o tempo e seus momentos, de ontem, de hoje e de sempre”.
JOSÉ CARLOS SOUSA E SILVA
“Depois de quatro livros publicados, Alex Brasil percorre uma linha anteriormente traçada: sem preocupar-se com a forma, busca na “matéria-desespero-diário” o caminho da crítica à ORDEM ESTABELECIDA, numa linguagem de ferro, extremamente popular, tentando impor a si mesmo o lado mais perigoso, numa luta nem sempre fácil.”
ROBERTO KENARD
DEDICAÇÃO
Quando a professora pediu ao garoto que citasse o nome de um herói, ele mais que ligeiro, levantou-se e disse: JOÃO DO VALE. Os outros garotos gargalharam com a sua suposta ignorância do colega. Porém, a professora, mais sábia, pediu silêncio e perguntou: – “Por que você acha que João do Vale é um herói?” – “Por que papai disse, professora – respondeu ele -, que quem nasce pobre e preto no Brasil e consegue vencer no Sul do país, é um herói.”
Não sei o resto da história, que chegou até mim através de um radinho de pilha, cotada pelo José Louzeiro numa entrevista a uma rádio de São Luís. Mas é provável que com a resposta do menino, o silêncio tenha sido mais profundo ainda naquela sala de aula de um colégio qualquer do maranhão. E é pensando nesse silêncio, que dedico este livro ao nosso herói João do Vale, que eu considero nosso maior poeta realmente popular, que como o povo não soube escrever a arelha deste livro, porque nunca teve tempo de estudar de tão atarefado com a missão de sobreviver num pedaço de terra esquecida nas entranhas do Maranhão- Nordeste. Mas que, como o povo, sabe sentir como ninguém a vida rasante, misturada com a terra,o vento e as árvores para reproduzi-las como coração cheio de emoção e poesia, numa canção, numa conversa de bar, num desabafo sincero ao amigo metido a intelectual.
Dedico este livro aos meus amigos de sempre, que graças a Deus nunca me faltam na hora de publicar meus versos; tantos amigos que um dia escreverei um livro para falar só deles.
PREFÁCIO (HERBET DE JESUS SANTOS
Pouca cousa de Alex escapa a este Brasil, não chore mais. E que o poeta, como cidadão do mundo e profissional de fé, que não pôde ficar à margem do sobretudo, responsável sobremodo pelo seu tempo, é descendente, em seu próprio tamanho, de uma raça de gigantes, que não sai por aí sem mas nem meio mas, ou em indiretas.Exercita algo que vem espontâneo ou não vem, se rola (vem), se vem (rola), tal uma bola de neve, no mínimo, acionador de uma avalanche em sua vanguarda temerária. E se há alguma liberdade na manhã de hoje, foi porque ele, também profeta – não obstante os bezerros de ouro literários -, anteviu a boa-nova, em suas andanças nas paredes pichadas da antevéspera:
“A liberdade está solta /e conduz as mãos na madrugada”…
Não deu outra na Nova República – atenção, ventos clandestinos! -: “Olhe bem em nossa frente / a esperança que os profetas previram/, uma terra fértil para qualquer semente”…
É assim mesmo o poeta (contestar quem há de?), que poeta é (bem) capaz de fazer da alma substantivo concreto, quando dela se retira todos ou quase os espinhos, como (só se for) uma lembrança eterna. Mesmo que nele haja (bata) um cavaleiro de ferro, na vã intentona de subjugar, vai-se ver, numa sólida aurora de um quarto solitário, que não passa de armadura de pétalas, pois que, com o intestino à mostra, é esperma imortal de um anjo de cera, que deu de cara, ontem, com um levado da breca, para agora ser submisso a qualquer candura, o seu ponto de fuga.
Entretanto, mostrando (argüido) que o poema está à flor da pele, ou vem aflorando, sem aquela exigência absurda e coercível de dá ou desce,c anta o que sabe o óbvio, aquele que poreja em “Morena”: “Então eu sei que o amor é moreno como tua pele/, que minha felicidade é morena como você”. Depois disso (de dizer), logo (então) percebemos a cor de um universo, que não é assim, vejamos, tão difícil pintar ou universo, aquele que a ele é voluntário de uma costeIa. Fez-se entender.
Dono de um verbo que não perseguem necessariamente o narcisismo pejorativo e espora – o seu bilhete ou seu espelho ou sua fonte, um ou outro aguarda uma resposta possível, porém nem sempre na ponta da língua de outrem -, o pavilhão de carne deste Brasil não nos apresenta uma faca de dois gumes: ainda procura – e sabe disso – a extensão do tantas vezes inatingível limite-infinito, para pegar o simples e descobrir dele todos os segredos da composição, enfim, decantada, mas é despido do simplório descartável, em se chegando até .. nós com possibilidades de entrega semitotal. Numa virada, está atento, sempre re/descobrindo que, comprimidos em qualquer tempo, nos vale eternamente o pensamento. Se liberta o seu drácula enigmático, sobre vagas tatuadas de estrelas remeluzentes, há quantos poemas novos em sua vida. Mais tarde – só o poeta -, por certo dará um poema (tiro de), quebrando o silêncio mais soturno da cidade, inventando gelos derretidos em rostos embriagados, acordando corpos e, quem sabe, o próprio silêncio, trazendo as primeiras notícias da manhã, uma manchete contumaz em sua substituição: a morte de uma paixão – aí obrigatoriamente, sente-se isso – noturna.
Tem mais esse som Brasil consequente da poética de Alex. De repente, você chega ao fim e (então) dá-se conta que só um cantor deixou-se aos pedaços pelos desvãos do caminho percorrido. Nesse ínterim – se se quiser -, pegos em flagrante conluio com o poeta, um beco nos cabe, consequentemente, em exigir muito: depende da gente fazê-lo com saída ou retornar, onde também ninguém se perde, para reencontrar o poeta, já indivisível e uno, em todas as artérias por que passou.